EUA privatizam sua ação contra o tráfico colombiano
Os EUA estão “privatizando” o Plano Colômbia.
Centenas de civis e de ex-militares, pagos por companhias privadas dos EUA, trabalham num ritmo cada vez maior para militares colombianos. Contratadas pelo Pentágono e pelo Departamento de Estado, essas empresas executam aspectos vitais da luta antidrogas e aproximam-se perigosamente da linha cinzenta que separa a guerra ao narcotráfico do combate à guerrilha no país.
Entre outras atividades, essas companhias destroem plantações de coca e de papoula, pilotam helicópteros militares, fazem missões de busca e resgate, consertam equipamentos e instruem militares colombianos.
Antes de o presidente Andrés Pastrana decidir bombardear as Farc, na última quinta-feira, essas companhias já mantinham mais pessoas na Colômbia do que o Pentágono. Com o fim do processo de paz, passaram a ser vistas como opção primordial da Casa Branca para fortalecer sua ajuda ao governo colombiano sem violar os limites do Plano Colômbia.
“Enquanto o Congresso norte-americano não autorizar a expansão do Plano Colômbia, essas empresas podem satisfazer a disposição dos EUA de aumentarem sua ajuda a Pastrana”, disse à Folha Michael Shifter, diretor do programa sobre a Colômbia do “Interamerican Dialogue”.
O Plano Colômbia proíbe a presença de mais de 500 militares e de 300 civis americanos trabalhando no combate ao tráfico naquele país. No entanto não existem limites para a presença de funcionários estrangeiros contratados por companhias dos EUA.
Informações sobre as operações dessas companhias são muito limitadas e só vêm à tona em incidentes como a derrubada pelas Farc de um helicóptero militar com um piloto peruano contratado pela DynCorp – companhia do Texas que recebe US$ 200 milhões para exercer várias funções na Colômbia, entre as quais a de destruir plantações de coca.
Ao menos outras cinco empresas pagas pelo governo dos EUA trabalham na Colômbia: Military Professional Resources, Northrop Grumman, Eagle Aviation Services, Sikorsky e Bell Textron.
Segundo o ex-embaixador americano em Bogotá Myles Frechete, a presença de companhias privadas no Plano Colômbia serve à Casa Branca porque reduz o potencial para desgaste político. “Se algum funcionário for morto, o governo pode dizer que não ele não é militar.”
Procurada pela Folha, a porta-voz da companhia, Janet Wineriter, limitou-se a enviar por e-mail informações sobre o perfil da companhia e de sua participação no Plano Colômbia.
“Nosso maior objetivo é fornecer apoio técnico ao programa da polícia colombiana de erradicação com herbicida de plantações de coca e de papoula. Os funcionários da DynCorp também estão auxiliando em vôos e na manutenção e logística relativas à aeronave UH-1N (helicóptero militar), operada pelo Exército da Colômbia para fornecer mobilidade aérea à sua recém formada brigada antinarcóticos”.
Apesar da aparente clareza das atribuições descritas no texto, as operações da DynCorp simbolizam a fronteira cinzenta entre a luta antidrogas e a guerra contra as Farc na Colômbia.
No dia 23 de janeiro, as Farc derrubaram um UH-1N americano pilotado por um peruano da DynCorp. Segundo a versão americana, o helicóptero protegia um avião que pulverizava uma plantação de cocaína. O piloto sobreviveu, mas cinco soldados colombianos que foram resgatá-lo foram mortos em combates com os rebeldes marxistas. A companhia mantêm 300 funcionários na Colômbia. Já o Pentágono, 250.
A companhia Military Professional Resources, contratada pelo Departamento da Defesa por US$ 4,6 milhões, possui apenas 14 funcionários. São militares americanos aposentados que assessoram as Forças Armadas colombianas em assuntos “estratégicos e logísticos”. Em relatório da empresa obtido pela agência Associated Press, prega-se que o combate à guerrilha é condição básica para que o narcotráfico seja derrotado.
Fonte: Folha Online