Tabagismo: Panorama Epidemiológico do Brasil
População em Geral
Segundo dados do I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas no Brasil – 2001 (Carlini et al 2002) estima-se que 41,1%, da população brasileira (46,2% dos homens e 36,3% das mulheres), com idade entre 12 e 65 anos, já usaram tabaco ao menos uma vez na vida. A prevalência no ano anterior à pesquisa foi de 20,1% e nos últimos 30 dias de 19,8%.
Segundo os autores, “essas porcentagens são inferiores às prevalências observadas no Chile, 70,1%, e nos Estados Unidos, 70,5%, porém, mais que o dobro do que foram vistas na Colômbia, 18,5%”. O mesmo estudo estimou em 9% a prevalência de brasileiros dependentes de nicotina (Carlini et al 2002).
Veja na tabela abaixo, a distribuição das porcentagens de dependência de nicotina por faixa etária:
Tabela 1 – Prevalência de dependentes de tabaco, distribuída, segundo o sexo e as faixas etárias dos 8.589 entrevistados, nas 107 cidades do Brasil com mais de 200 mil habitantes.

Industrialização pode influenciar no consumo
Outros dados que revelam a situação nacional de consumo de tabaco, foram os obtidos por meio do Inquérito Domiciliar sobre Comportamentos de Risco e Morbidade Referida de Doenças e Agravos Não Transmissíveis, realizado por iniciativa do Instituto Nacional do Câncer, do Ministério da Saúde nos anos de 2002 e 2003. A pesquisa revelou que as cidades brasileiras mais industrializadas foram as que apresentaram maiores prevalências de uso regular de tabaco. Porto Alegre foi a cidade com a maior prevalência de fumantes regulares, 25,2% da população com 15 anos ou mais.
A pesquisa estimou também que a proporção de homens que fumam regularmente é superior a das mulheres que adotam o mesmo padrão de consumo. Esta desigualdade entre os gêneros chega a 30% nas cidades das regiões Sul e Sudeste do País e entre 50 e 100% nas cidades das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A faixa etária de maior consumo regular de cigarros é a de pessoas com idade superior a 24 anos. Indivíduos com menor escolaridade (ensino fundamental incompleto) também foram os que apresentaram consumo regular mais elevado.
Quanto ao fumo passivo, os mais jovens foram os que apresentaram maior exposição à fumaça do tabaco em suas residências. “Em sete capitais investigadas, 30% ou mais dos jovens não-fumantes encontravam-se expostos à poluição tabagística ambiental em seu domicílio”.
Ao comparar os dados do estudo acima referido com os obtidos em 1989 por meio da Pesquisa Nacional em Saúde e Nutrição, observou-se, no último, diminuição do consumo regular de tabaco pela população brasileira. Os autores concluíram que o decréscimo foi decorrência de medidas adotadas pelo Governo para o controle do tabaco: criação do Programa Nacional de Controle do Tabagismo e da Comissão Nacional para o Controle do Tabaco, aumento de preços e impostos, regulamentação dos locais de uso de tabaco, promulgação da Lei 9294/96 que proibiu o uso de cigarros em recinto de uso coletivo e a regulamentação das propagandas de cigarros e similares.
Estudantes de ensino fundamental e médio
Segundo Carlini e colaboradores (2005), na mais recente pesquisa realizada no Brasil sobre o uso de drogas por esta população, o uso de tabaco entre estudantes de ensino fundamental e médio de escolas públicas das 27 capitais brasileiras só é menor que o uso do álcool. Segundo o estudo, 24,9% já havia feito uso de tabaco ao menos uma vez na vida, 15,7% no último ano e 9,9% nos últimos 30 dias. O uso freqüente (definido como uso de seis ou mais vezes nos trinta dias que antecederam a pesquisa) foi relatado por 3,8% dos entrevistados e o uso pesado (vinte ou mais vezes nos últimos trinta dias) por 2,7% dos estudantes. Como na população em geral, a proporção de homens consumidores de tabaco foi maior que a de mulheres.

A prevalência de uso na vida encontrada no Brasil na faixa etária entre 15 e 16 anos, 32,2% é menor do que a encontradas em países desenvolvidos com, Alemanha, 77%, Finlândia, 70%, França, 68%, Itália, 64%, Portugal, 62% e Holanda, 57%. No entanto, superior a encontrada nos Estados Unidos, 13,8%.
Outro dado relevante é que as idades de primeiro uso de álcool e tabaco são inferiores as de outras drogas. No caso do tabaco, a média de idade para primeiro uso encontrada nesta pesquisa foi de 12,8 anos. Estas informações reforçam a tese de que a prevenção do uso de outras drogas deve incorporar necessariamente esforços para adiar o início do uso de álcool e tabaco.
Tendências

Estudantes universitários

Ao comparar aos resultados encontrados em pesquisa semelhante realizada em 1996, o autor constatou aumento significativo de consumo na vida de tabaco entre os estudantes.
Kerr-Corrêa e colabores (2000), em pesquisa realizada com estudantes da Universidade Estadual Paulista – Unesp, constatou as seguintes prevalências de consumo de tabaco: na vida, 43,1%; no último ano, 27,8% e nos últimos 30 dias, 25,2%.
Fator de risco
Os estudantes da USP que usaram tabaco nos últimos 12 meses, apresentaram maiores riscos de serem usuários atuais de bebidas alcoólicas e de terem usado drogas ilícitas no ano anterior à pesquisa. (Stempliuk, 2004)
Crianças e adolescentes em situação de rua

Aumento no consumo
Segundo os autores, “em comparação com o estudo anterior (1997), os índices de consumo de tabaco aumentaram entre os entrevistados de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e, em menos intensidade, em Fortaleza e Recife”. A única capital em que se observou diminuição foi Porto Alegre.
Os pesquisadores destacaram, também, que mais de 90% consideraram fácil comprar cigarros em padarias, bares, vendas e supermercados. Em todas as capitais observou-se o mesmo fenômeno, demonstrando o descumprimento da Lei que proíbe a venda de tabaco para menores de 18 anos no Brasil.
Fonte:OBID(26/08/2005)