Como o consumo de álcool pode impactar a saúde mental?
O consumo de álcool pode ser prejudicial à saúde mental de um indivíduo, principalmente se ele já apresentar algum tipo de transtorno mental. Saiba mais.
A saúde mental é, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, um estado de bem-estar mental que permite às pessoas lidarem com o estresse cotidiano, realizarem as suas capacidades, aprenderem e trabalharem bem, e contribuírem para a sua comunidade. Ela é um componente integral da saúde geral e um direito humano básico, crucial para o desenvolvimento pessoal, comunitário e socioeconômico1. Sabe-se que o consumo de álcool pode ser prejudicial à saúde mental de um indivíduo, principalmente se ele atender aos critérios para transtorno por uso de álcool, como dificuldade em controlar o consumo de bebidas alcoólicas, consumo excessivo de álcool em uma ocasião ou beber frequentemente de forma excessiva na maioria dos dias ou semanas2.
Estudos apontam que, entre a população geral, existem associações entre transtornos mentais como depressão e ansiedade, e o consumo excessivo de álcool (binge drinking) ou dependência3,4. Também há evidências de uma associação entre uma piora da saúde mental e aumento do uso de álcool. Esses achados mostram que pessoas podem ser motivadas a usar álcool para tentar lidar com o estresse, uma vez que o álcool age rapidamente no organismo promovendo estados de relaxamento. E isso pode incluir as pessoas com transtornos mentais, como ansiedade e depressão, já que o consumo de álcool pode, a curto prazo, “aliviar” a percepção dos sintomas que as afligem naquele momento5, muito embora o consumo de álcool efetivamente não contribua para remediar tais sintomas, podendo, ao contrário, agrava-los.
Uma revisão da literatura científica mostrou que pessoas com transtornos mentais mais prevalentes, como depressão, ansiedade e fobia, têm duas vezes mais chances de relatar um transtorno por uso de álcool do que pessoas sem esses transtornos6. Uma das hipóteses levantadas é que, além dos indivíduos serem motivados a usar álcool para lidar com o estresse, existe a percepção de que os “benefícios de beber” seriam maiores do que os malefícios, embora isto seja um equívoco. O álcool pode ser percebido como um falso aliado para lidar com o mau humor e a irritabilidade, sintomas comuns de alguns transtornos mentais.
Uma pesquisa por inquérito telefônico na Finlândia7 também relatou que o consumo excessivo de álcool e suas consequências estão associados a problemas como sofrimento psicológico e falta de satisfação com a vida. Estes resultados referem-se tanto a classes sociais mais elevadas quanto a classes mais baixas. Em conclusão, os pesquisadores mencionam que, para proteger e promover a saúde mental, seria melhor evitar o consumo excessivo de álcool ou, pelo menos, restringi-lo a um máximo de algumas ocasiões por ano.
O aumento do consumo de álcool também foi relatado durante a pandemia de COVID-19. Um estudo americano8 realizado através de pesquisas on-line mostrou que 29% dos entrevistados relataram o aumento do consumo de álcool, sendo esse aumento referido entre pessoas com sintomas depressivos e de ansiedade. Os entrevistados com idade entre 18 e 39 anos foram os que tiveram maior probabilidade de relatar aumento no uso de álcool.
Existe, portanto, uma relação entre o uso nocivo do álcool e uma série de transtornos mentais e comportamentais, além de doenças não transmissíveis e lesões9. Por isso, ter bons hábitos de alimentação, dormir bem, praticar atividades físicas, mitigar o estresse e diminuir (ou evitar) o consumo de álcool, entre outras práticas afins a um estilo de vida saudável, proporciona muitos benefícios para a saúde mental e física. E lembre-se: se você estiver sofrendo com problemas emocionais ou mentais em algum momento da sua vida não hesite em buscar apoio profissional. Cuide da sua saúde mental!
- Referências:
1. Mental Health – World Health Organization [Internet]. Available from: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/mental-health-strengthening-our-response
2. Guha M. Diagnostic and statistical manual of mental disorders: DSM-5. Reference Reviews. 2014 Mar 11;28(3):36-7.
3. Paljärvi T, Koskenvuo M, Poikolainen K, Kauhanen J, Sillanmäki L, Mäkelä P. Binge drinking and depressive symptoms: a 5‐year population‐based cohort study. Addiction. 2009 Jul;104(7):1168-78.
4. Lai HM, Cleary M, Sitharthan T, Hunt GE. Prevalence of comorbid substance use, anxiety and mood disorders in epidemiological surveys, 1990–2014: A systematic review and meta-analysis. Drug and alcohol dependence. 2015 Sep 1;154:1-3.
5. Jane‐Llopis EV, Matytsina I. Mental health and alcohol, drugs and tobacco: a review of the comorbidity between mental disorders and the use of alcohol, tobacco and illicit drugs. Drug and alcohol review. 2006 Nov;25(6):515-36.
6. Puddephatt J, Irizar P, Jones A, Gage SH, Goodwin L. Associations of common mental disorder with alcohol use in the adult general population: a systematic review and meta‐analysis. Addiction. 2021 Dec;117(6):1543-1572.
7. Mäkelä, P., Raitasalo, K., & Wahlbeck, K. Mental health and alcohol use: a cross-sectional study of the Finnish general population. The European Journal of Public Health. 2015;25(2), 225-231.
8. Capasso, A., Jones, A. M., Ali, S. H., Foreman, J., Tozan, Y., & DiClemente, R. J. Increased alcohol use during the COVID-19 pandemic: The effect of mental health and age in a cross-sectional sample of social media users in the US. Preventive Medicine. 2021,145, 106422.
9. Álcool – OPAS/OMS | Organização Pan-Americana da Saúde [Internet]. www.paho.org. Available from: https://www.paho.org/pt/topicos/alcool
Fonte: CISA – Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool